O bramido do mar, uma manchete de jornal
Dom Lourenço Fleichman OSB
Haverá consternação dos povos pelo bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre o mundo, porque as forças dos céus se abalarão”. S. Lucas, 21,25 - 1º domingo do Advento
Não é com trombetas e cânticos de alegria que abrimos este ano, mas com a lembrança apertada da ira de Deus que se abate sobre a terra para mostrar aos homens que só Ele é o Senhor. Alguns podem contestar a idéia de que seja um castigo divino a tragédia da Ásia, mas não podem esconder que pelo menos 50% de chances existem para que o seja. Eu, de minha parte, espero sinceramente que assim seja, e estou convencido disso, pois os desígnios de Deus são sempre sábios e visam a salvação do maior número possível de homens. Prefiro a idéia de Deus castigando a humanidade que, aqui para nós, abusa há muitos séculos da capacidade de pecar, do que de uma simples permissão divina, anódina e sem conseqüências para a salvação tão esperada no céu. Se é para que muitos se convertam, que venham as ondas, os raios, o fogo, que caiam do céu os meteoritos, os satélites, que calem os telefones, internets e globalizações para que os homens descubram que são pó e ao pó hão de voltar.
Se houvesse no mundo ainda algum tipo de honradez, de nobreza de alma, não seria a significativa fumaça que tamparia o brilho dos fogos de Copacabana, mas o sentimento profundo de que não se pode alegrar com tal ênfase diante de tanta dor e confusão. Mas é o dinheiro que tem a primazia, o circo deve continuar, como nos tempos da Arca de Noé.
Não posso deixar de me questionar sobre o papel da Igreja num momento como este. Mais uma vez (até quando, Senhor?) somos obrigados a perguntar: - Onde estão os senhores bispos? Porque não saíram às ruas tocando o dobre ao canto das Ladainhas penitenciais? Porque não gemem e pedem por clemência a Deus? Em tempos mais católicos o povo fiel estaria nas ruas pedindo perdão por seus pecados e por aqueles que se foram de modo tão repentino, tão claramente correspondendo às Escrituras:
Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem. Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada. (São Mateus, 24, 28-41)
Estarei eu sonhando? Serei um superficial demagogo usando as profecias para assustar com minha retórica induzindo pelo medo à conversão?
De que têm medo os pastores católicos? De serem antipáticos, rechaçados pela mídia internacional porque falam uma linguagem de conversão, de penitência? Vamos até lá e ouçamos o que nos têm a dizer os senhores bispos:
Pensamos também os (sic!) milhões de sobreviventes atingidos pela perda de familiares e amigos, pela destruição de suas casas e a perda de tudo, o que lhes causa não pouco desconforto. Esta catástrofe seja uma ocasião para que todo mundo possa vencer egoísmos e viver a solidariedade de irmãos. (site da CNBB, que me recuso a dar como referência porque é impróprio para católicos)
Mas essa linguagem, essa inimaginável "profundidade" de pensamento nós encontramos aos borbotões em cada esquina, em cada mesa de bar, diante da cerveja ou da televisão! Não se pode admitir que bispos falem assim, que só pensem na solidariedade, que não falem na salvação das almas. Será possível que não vejam que abandonaram há muito tempo o mister pastoral de conduzir ovelhas para o céu?
E o católico diante de tudo isso? Pensemos nós, então, mas pensemos em bom português! Para nós fica a lembrança de que Deus Nosso Senhor pode, com o sopro da sua boca, despachar para o juízo da morte a quantos Ele queira e que não tem cabimento vivermos no mundo de modo tão mergulhado, tão apegado às coisas e a nós mesmos, como temos vivido. Somos herdeiros de uma doutrina, de um Evangelho, que prega o desapego, o desprezo mesmo pelas riquezas, pelo conforto, pelo prazer, para nos dedicarmos à Felicidade Eterna, que nos foi prometida e que virá, sem nenhuma dúvida, mais cedo ou mais tarde. E se tarda, não é motivo para esquecermos das verdades que nos esperam, como os Israelitas se esqueceram da Terra prometida quando Deus lhes fez chover do céu perdizes suculentas para comerem, porque estavam enjoados do maná! Queremos pensar agora porque na hora em que Ele vier não haverá tempo para isso!
Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes. Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim! Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens. Mas, se é um mau servo que imagina consigo: - Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios, o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe, e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes. (idem, 42-51)
Muitos acontecimentos recentes podem ser interpretados à luz de alguma profecia dos Evangelhos. Mas nunca, que me lembre, assistimos a um acontecimento onde a profecia poderia perfeitamente ser uma manchete de jornal. O texto que citei do Primeiro domingo do Advento, ou seja, lido pela Igreja exatamente quatro semanas antes dos acontecimentos deste Natal, poderia perfeitamente ter saído de um jornal qualquer ao anunciar a tragédia. Não estou querendo dizer que o mundo vai acabar em pouco tempo. Muito tempo pode decorrer antes do fim do mundo, durante o qual os sinais vão se seguindo para alertar aos católicos atentos sobre a marcha do tempo e do fim dos tempos. Mas não me venham também dizer que não há motivos para se tomar uma atitude forte. O mundo necessita da conversão de milhões e milhões de homens ao único Deus e Senhor Nosso, Jesus Cristo, e sua Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica (que não é a invenção de Vaticano II). Evidentemente esta linguagem de conversão, fim do mundo, única Igreja etc. já foi abandonada pelos bispos de Vaticano II há quarenta anos. Após todo esse tempo pregando o falso ecumenismo, como podemos esperar que os bispos chamem o povo à conversão?
Por isso eles vão continuar "comendo e dançando, casando e dando-se em casamento (vivendo do sexo)" e serão levados para o lugar do choro e do ranger dos dentes.
Mas "o meu justo vive da Fé". Tenhamos pois os olhos da Fé sobrenatural, da dócil submissão de nossas almas à verdade revelada por Deus que é o único modo de vigiar que nos foi dado pelos céus. Vigiar é estar atento às palavras reveladas e mover nossos corações a um amor tão intenso por Deus, nEle mesmo, que possamos deixar de lado tantos atrativos para o pecado e para o abandono da oração. Rezemos o Terço, busquemos no Santo Sacrifício da Missa, a verdadeira, a católica, tridentina, o alimento para a nossa fé. Porque este é o único critério dado por Nosso Senhor para o dia do seu retorno. Ele vai separar os homens entre os que têm fé e os que abandonaram a verdade divina. Mais do que nunca, este ano, Nosso Senhor quis que no tempo do Natal, meditássemos na sua segunda vinda.
A Igreja nos traz, na semana do Natal, uma pequena frase que é cantada hora e outra como antífona: "Jacet in praesépio et in coelo regnat - deita-se na manjedoura aquele mesmo que reina nos céus". Foi essa a recomendação que procurei dar aos fiéis esses dias de confusão pelo bramido do mar e das ondas, e que deixo para nossos leitores: adoremos a Nosso Senhor com verdadeira submissão, atitude de dobrar nossa cabeça altiva e estúpida diante deste Rei que governa o mundo da gruta de Belém, da Cruz de Jerusalém, como do céu. Aproximemo-nos da gruta, estejamos em torno da manjedoura, junto com os pastores. Que nossas almas, ali, respirem fundo de alívio, de esperança, porque o Senhor falou neste Natal terrível e manifestou-se aos homens - Fale, Senhor, que vosso servo escuta!