Será preciso falar nele também?
Dom Lourenço Fleichman OSB
Por incrível que pareça, sinto-me na obrigação de dizer algumas palavras sobre o Padre Marcelo Rossi. Normalmente não deveria me preocupar com mais um padre progressista, com mais um "carismático". Ele não deveria impressionar aos nossos fiéis, que há tantos anos aprendem o que seja a verdadeira fé, a verdadeira missa. Mas constato que entre nós, algumas pessoas não estão sabendo analisar este fenômeno com os princípios da Fé Católica. Por isso resolvi dizer algumas palavras.
O que mais se ouve nas ruas é que este padre:
1) levantou a Igreja Católica que estava entregue às moscas
2) traz alegria a todos
3) está tirando gente da Igreja Universal e dos protestantes em geral.
Por outro lado, o Cardeal do Rio pediu cautela e algumas pessoas acham exagerado tudo isso.
O que nós temos a dizer?
A primeira coisa a ser lembrada é qual deva ser a atitude de alguém que se propõe a assistir à Missa. Deve procurar um lugar divertido, alegre, entusiasta? A resposta só poderá ser dada se compreendermos que a Missa é o Sacrifício da Cruz de Nosso Senhor, renovado sobre nossos altares, com o intuito de trazer para nossas almas a Redenção, ou seja, o perdão dos nossos pecados, a mudança de vida necessária para perseverarmos na Fé e alcançarmos a vida eterna.
Concluiremos que a Missa deve ser triste? Não.
Então ela deve ser alegre, e o Pe. Rossi tem razão de querer divertir a todos na Missa? Também não.
A Missa não é nem triste nem alegre simplesmente por que o ato que é pedido ao fiel na Santa Missa é um ato de Fé, movido por um intenso amor. Nem a fé, nem a caridade necessitam da alegria ou da tristeza. Mas tanto uma quanto a outra pedem seriedade, gravidade. É num ambiente sério, pacífico, silencioso, ou com sonoridades interiores (como o canto gregoriano) que nossa inteligência conhece a verdade do que é realizado nos nossos altares, e nossa vontade se une à realidade total que é Deus Nosso Senhor que nos governa e nos dá abundantemente graças de perdão durante a Santa Missa. Os sentimentos podem acompanhar nossos atos de conhecimento e de amor, por sermos feitos de corpo e alma, mas podem também estar ausentes, sem prejudicar o que ali se realiza.
Voltemos um pouco ao catecismo:
Onde reside a Fé? Na nossa inteligência, pois a Fé é um dom sobrenatural dado gratuitamente por Deus, pelo qual nós conhecemos a Verdade revelada sem possibilidade de erro.
Onde reside a Caridade? Na nossa vontade, pois a Caridade é um dom sobrenatural dado gratuitamente por Deus, pelo qual nós amamos o Bem que é Deus, logo o possuímos já nessa terra tão perfeitamente quanto o possuiremos no céu. (Que coisa extraordinária que é o amor de Deus e quanto devemos nos esforçar para agir sem pecar!)
Agora eu pergunto: a alegria e a tristeza residem na inteligência e na vontade? A resposta é Não!
Tristeza e alegria são paixões da alma, ou seja, movimentos dos nossos sentimentos, das inclinações das três concupiscências (a carne, as riquezas, o poder), pelos quais nós sentimos os acontecimentos, nós reagimos diante de certos fatos, às vezes acompanhando a verdade vista pela inteligência, mas outras vezes impondo à vontade um caminho contrário à razão. E se a vontade é fraca, os sentimentos vencem o combate interior e provocam o pecado.
É por isso que devemos ter muito cuidado quando ouvimos os carismáticos falarem de oração, de fé, de Espírito, etc. O que eles chamam de fé é o entusiasmo sentimental que se esforçam em ter, que provocam com seus cânticos sentimentais, e que os levam a manifestar de modo ativo certa dedicação pelas coisas da Igreja. Mas não é isso a Fé.
Se o Pe. Marcelo Rossi achou, um dia, que a Missa precisava de mais alegria, de entusiasmo, é que entende de modo equívoco o que seja a Fé; é que não conhece mais a natureza do ato de fé que o fiel deve ter ao se aproximar do altar, é que não sabe mais o que é a Missa!
Esta é a realidade doutrinária que está por trás do "fenômeno". O resto é conversa sem sentido: Se ele está tirando gente da Universal é para leva-los para um catolicismo inteiramente protestantizado. Ou seja, só têm de católico o nome e certas práticas não aceitas pelos protestantes. Mas a fé, a doutrina...estão todos no mesmo barco.
Quanto à pretensão dele ter levantado a moral dos católicos, só se for desses progressistas que já não têm mais fé nem verdadeiro amor por Deus e por sua Igreja. Só se for desses católicos que preferem pecar mil vezes a dizer em público que vão à Missa todo domingo.
Só podemos concluir que o fenômeno atual do Pe. Marcelo Rossi só impressiona ao mundo, só impressiona aos homens do comércio, aos donos da mídia e da televisão. Para nós, o que mudou? Nada! Para eles é que muda: antes erravam amofinados e tristes, agora erram alegrinhos. É só a lógica da Revolução que segue seu curso e que, em cada novidade, arrebata mais incautos para o fundo do abismo.
Que nossa alegria na Missa continue sendo a de "subir ao altar do Senhor, do Deus que alegra a minha juventude".