A Fé e suas
Fontes
Ao iniciar um estudo da
doutrina católica, é preciso, antes de tudo, saber de onde nos vem esta
doutrina.
Se nossa adesão à Religião Católica deve ser total, irrestrita e amorosa, é
preciso que haja na própria Igreja as garantias necessárias para esta adesão
tão definitiva. Em outras palavras, só poderemos dar nosso assentimento de fé
às verdades católicas quando compreendermos que não se trata de verdades
inventadas pelos homens, mas reveladas por Deus.
Essa é a primeira noção importante a conhecer: a Revelação.
Ao criar os homens, em Adão e Eva, Deus formou a natureza humana com certas características próprias, que se encontram em todos os homens. Uma dessas características é o sentimento religioso, natural, horizontal, que nos leva a praticar, de algum modo, um culto a Deus. Assim vemos, desde o início da humanidade, sacrifícios oferecidos, como o de Caim e Abel, como o de Noé, e de Abraão.
Se é verdade que o povo
eleito se forma a partir de Abraão, segundo a promessa feita por Deus a ele, é
com Moisés que se estabelece, por revelação divina, uma religião
revelada, ensinada e exigida por Deus a seu povo. Já não mais natural e
horizontal, mas vertical, divina, vinda de Deus para nós e não apenas de nós
para Deus.
Esta Revelação vai dar ao culto um valor novo, que não existia quando
este culto era movido apenas pelo sentimento natural de religião. A partir daí,
Deus vai exigir do seu povo a realização do culto como ele determinou e vai
condenar vigorosamente toda idolatria.
Mais tarde, ao recusar o Messias e crucificá-lo, os judeus rompem com a Revelação,
revoltam-se contra Deus e perdem o valor sobrenatural e divino de sua religião.
É a Igreja Católica que recebe de Jesus a autoridade para continuar a Revelação.
Deus falou – o que ele diz
só pode ser a Verdade por excelência. Ele não pode errar e não pode nos
enganar. O que Deus disse forma o conjunto objetivo de verdades reveladas. É
chamada de Revelação pública aquela que foi entregue por Deus aos
homens, dando-lhes autoridade para falar em seu nome, através de uma instituição
fundada para este fim. Temos assim:
-
Revelação pública particular – é o Antigo Testamento, porque
restringia-se ao povo eleito.
-
Revelação pública universal – é o Novo Testamento, porque ensinada
para todos os homens pela Igreja.
O ato de Revelação termina
com a morte do último Apóstolo. Aos Apóstolos foi entregue, por Jesus Cristo,
o depósito Sagrado, para que eles, com sua autoridade divina, pregassem a todos
os povos, até os confins da terra. São diversas as passagens dos Evangelhos em
que Jesus manifesta esta autoridade da Igreja:
“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que crer e for
batizado será salvo, o que porém não crer, será condenado”. (S. Marcos,
16,16)
“Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja”. (S. Mateus,
16, 18)
Cabe, então, à Igreja Católica, o papel de guardar, pregar e explicitar a verdade revelada.
Este trabalho da Igreja se
faz mediante as declarações autorizadas da Igreja. É a isso que se dá o nome
de “dogma”.
Dogma é toda verdade revelada por Deus na medida em que ela é proposta pela
Igreja para ser crida. E se é verdade que o Depósito da Revelação
completa-se com a morte do último Apóstolo, já as explicações,
desenvolvimentos e explicitações do que está contido na revelação,
continua, sob a autoridade da Igreja e com a assistência do Divino Espírito
Santo.
Assim, por exemplo, o dogma da “transubstanciação”. A Igreja, mediante uma
palavra revelada por Deus, chega a uma conclusão teológica que, por ser
essencialmente unida à revelação, é declarada pela Igreja como dogma de fé.
Se fosse possível que a substância do pão não se transformasse na substância
do Corpo de Cristo, estaria negada a divindade da Revelação. A nossa adesão
ao dogma é, então, a mesma da adesão à Revelação.
Seria um pecado grave contra a fé negar um dogma católico, pois estaríamos
negando a própria palavra revelada por Deus.
Chamamos de Fonte da Revelação
o lugar onde se recolhe, sem possibilidade de erro, a Revelação divina.
- A Tradição divina é a
fonte Primária da Revelação.
- A Sagrada Escritura ou Bíblia é a fonte secundária da Revelação.
Tradição = algo transmitido por Deus.
A Divina Tradição é fonte da Revelação porque por ela se conserva e é transmitida pela Igreja, desde os Apóstolos, as verdades e as coisas ensinadas por Deus. Assim, nela está contida a palavra de Deus transmitida.
Ela é chamada fonte primária
porque, antes de mais nada e por si só, foi ordenado por Nosso Senhor que fosse
transmitida e conservada pela pregação oral. “Ide, pregai este Evangelho”.
“Vos transmiti o que recebi... vos preguei o que recebestes para que não
acrediteis em vão... Tal a nossa pregação tal a vossa fé”. (ICor., 15)
A conservação da Divina Tradição só podia ser garantida por Deus, pois
aquele que a constitui também a conserva.
Em que consiste a
Tradição:
Ela engloba verdades:
-
explicitamente presentes nas Sagradas Escrituras – ex. a divindade de
Cristo
-
implicitamente presente nas Sagradas Escrituras – ex. a assunção de
Nossa Senhora.
-
não presentes nas Sagradas Escrituras – ex. forma e matéria de alguns
sacramentos.
Em que não consiste a
Tradição:
-
não é a Tradição apostólica – verdades oriundas dos apóstolos.
Ex. certos ritos secundários
-
não é a Tradição eclesiástica – verdades oriundas da pregação da
Igreja. Ex. o hábito eclesiástico.