A questão da crise do celibato e dos pecados do clero, que tratamos na nossa Campanha pela Santidade do Clero, recebeu uma luz nova neste artigo de Mgr. Willianson, um dos quatro bispos da Fraternidade São Pio X. Em seu Boletim mensal Mgr. Willianson expõe com clareza as causas verdadeiras da decadência e do pecado de tantos padres modernos.
1º de maio de 2002
Caros amigos e benfeitores,
Já há vários meses que a mídia americana critica a Igreja Católica por causa das faltas graves de alguns de seus padres, nos últimos 30 a 40 anos, contra jovens membros de suas congregações. Muita coisa foi dita e escrita sobre isso, muito mais do que eu sei ou que tenha podido ler sobre o assunto. No entanto, existem certas verdades importantes ligadas a esta questão que eu não vi, ou quase, mencionadas. Ei-las.
Antes de mais nada, quero dizer de quem não é a culpa, na sua essência. Não é culpa, essencialmente, dos organismos da mídia. Muitas vezes nosso boletim tem classificado a imprensa de má e sua maldade aparece nesta questão pelo uso da palavra "pedofilia" ao invés de usar "homossexualismo", para definir este problema. A palavra pedofilia se refere, propriamente, ao abuso de crianças com menos de 10 anos, enquanto que os relatórios indicam que a esmagadora maioria dos crimes de que são acusados estes padres se referem a adolescentes, uma atividade que, normalmente, se diria "homossexual".
Sabemos que há anos que a mídia, em sua iniqüidade, desenvolve uma campanha bem tramada e persistente para legitimar, na mente das pessoas, o pecado de homossexualismo, também chamado pecado contra a natureza, um dos quatro pecados que clamam vingança ao Céu. Como a imprensa poderia glorificar a atividade homossexual para, em seguida, mudar e condená-la no caso dos padres? Eles pretendem, então, que o problema seja de "pedofilia", porque a maioria das pessoas ficam - ainda - chocadas pelo abuso sexual das crianças, quando já não se importam mais - em boa parte por influência da imprensa - contra o horror deste pecado contra a natureza que clama aos Céus. Podemos também criticar a imprensa por coordenar o que é certamente uma campanha mundial para explorar ao máximo esta fraqueza atual da Igreja. A mídia, tendo caído nas mãos dos inimigos de nossa Santa Madre Igreja, por falta de vigilância ou de preocupação da parte dos amigos da nossa Madre Igreja, a mídia em geral não é amiga da Igreja e aproveita da situação para empurrar quanto pode a Igreja para baixo. Mas o provérbio diz bem: não há fumaça sem fogo. Como a imprensa teria feito fumaça sem que houvesse algum fogo na Igreja? Os homens da Igreja, cometendo ou encobrindo estes pecados não podem criticar a imprensa. Também não podem acusar os fiéis do povo de não serem razoáveis, pois a reação popular nos Estados Unidos nos parece ser razoável sob dois aspectos.
Primeiro porque todo padre católico deveria, em todo tempo e em todo lugar, pela elevação de sua vocação, comportar-se como um anjo. Ele carrega, no entanto, o tesouro de seu sacerdócio num frágil vaso de barro, que é a natureza humana decaída (II Cor. IV,7), de modo que nenhum dos que conhecem a natureza humana se surpreende de encontrar, infelizmente, estas péssimas manifestações entre os padres.
O povo americano, sabiamente, se mostra hoje menos chocado de ver o seu baixo clero (sacerdotes, diáconos, seminaristas) cometer este pecado do que ver o alto clero (bispos) encobertá-lo, o que já não é uma fraqueza da carne (mesmo sendo uma fraqueza grave).
Em segundo lugar, para defender o povo quando este critica o alto clero por encobrir os pecados do baixo clero, eles parecem reconhecer até certo ponto um direito primário da Igreja acima do Estado, para sancionar os homens da Igreja. O povo parece querer dizer, não tanto que os crimes dos padres sejam competência do Estado, mas que a Igreja deveria manter a ordem dentro de casa, o que seria, caso isso ocorresse, uma reação do antigo bom senso.
Assim sendo, nem a mídia nem o povo devem ser censurados, em princípio. Resta-nos ver o clero. E se, em todos os tempos e em todos os lugares, homens que são os padres da Igreja, deram provas de sua fraqueza humana, o que caracteriza o problema atual é sua amplitude. Parece que o pecado de homossexualismo não seria mais esporádico entre os padres, mas sistemático. Além disso - é o que deixa muitos enfurecidos - parece que foram sistematicamente escondidos debaixo do tapete pelo alto clero.
Infelizmente, sabe-se que já há dezenas de anos que a Igreja Católica foi infiltrada, nos Estados Unidos, por homossexuais. Nos anos 80 o Pe. Enrique Rueda publicou seu livro intitulada "A malha homossexual" para documentar este fato com uma série de evidências. Hoje somos informados que os seminários oficiais estão infestados de professores e de seminaristas homossexuais. Como dizia recentemente um bispo, uma primeira etapa na arrumação desta desordem consistiria em "desodorizar" os seminários. Um outro bispo falava sobre a apreensão dos jovens normais em entrar nos seminários, temendo ser agredido por algum desses perversos protegidos do sistema!
Mas como o sistema pode atingir este ponto? Aqui aparecem duas respostas básicas, sendo que nenhuma das duas é apresentada hoje, não estando elas também em medida de agradar a hierarquia atual da Igreja. É exatamente por isso que dizemos que há um problema de sistema. A primeira resposta é sobre a missa, a segunda, mais geral ainda, é sobre os Dez Mandamentos.
Quanto à missa, Mons. Lefebvre costumava dizer que não conseguiria dirigir nenhum seminário seu com o Novus Ordo Missae (Missa de Paulo VI). Tudo foi feito por Roma, nos anos 70 e 80 para que esta nova missa fosse introduzida em seus seminários, mas ele dizia que, se tivesse aceito isso, seria melhor fechar as portas e ir embora. Ele nunca disse isso assim deste modo, mas para ele, um seminário sem a missa tridentina (Missa de S. Pio V) é como um reator atômico sem urânio: não há como formar verdadeiros padres sem o sacrifício. O sacrifício é o coração do padre e se lhe arrancam seu sacrifício, falsifica-se o padre. E se o padre é falsificado, ele vai certamente buscar diversos caminhos falsos atrás de substitutos e de satisfações, o que inclui o homossexualismo. Penso que se Mgr. Lefebvre estivesse vivo hoje, diria que, sendo a nova missa imposta aos padres já há mais de 30 anos, o que surpreende não é tanto que o homossexualismo tenha se alastrado entre os padres, mas que o tenha sido tão pouco!
Mas, como em toda a crise atual da Igreja, apesar do problema da missa ser o sintoma principal, a doença é mais profunda e mais abrangente. A tendência principal da nova missa é por o homem no lugar de Deus, violando diretamente o Primeiro Mandamento: "Eu sou o Senhor teu Deus, não terás outros deuses diante de mim" (Ex. XX,3). Em resumo, a tendência e a finalidade de toda a Igreja moderna é a idolatria do homem substituindo a Deus. Ora, o que diz S. Paulo (Palavra de Deus), sobre as conseqüências da idolatria? Leiam a Epístola aos Romanos, I,18-31:
"...os homens que retém na injustiça a verdade de Deus (...) mudaram a glória de Deus incorruptível para a figura dum simulacro de homem corruptível (...) Pelo que Deus os abandonou aos desejos do seu coração, à imundície; de modo que desonraram os seus corpos em si mesmos".
São Paulo continua a falar dessa relação de causa e efeito entre a violação do Primeiro e do Sexto mandamento, com referência específica ao pecado contra a natureza:
"...eles que trocaram a verdade de Deus pela mentira e que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador (...) Por isso Deus entregou-os à paixões de ignomínia. Porque as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em outro uso que é contra a natureza. E, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza, recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu desregramento".
E para os que não compreenderam ainda que a idolatria está no cerne deste problema, São Paulo diz uma terceira vez:
"Como não procuraram conhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado para que fizessem o que não convém, cheios de toda iniqüidade...". Segue aqui uma lista de pecados graves (que merecem reflexão).
Deus não permita que os católicos da Tradição joguem pedras contra a fraqueza dos padres da Igreja oficial, pois poderia nos punir permitindo que caíssemos na mesma armadilha. Mas não foram os "tradicionalistas" que fizeram com que dois mais dois fosse igual a quatro. São Paulo, falando por Deus, põe o dedo na ferida do problema básico da Igreja moderna. Deus utiliza este pecado para sublinhar a idolatria e Ele parece agora usar da autoridade do Estado para lavar sua Igreja deste pecado. Tanto um quanto o outro são atos de Piedade de sua parte. Que Ele digne-se ter também piedade de nós.
Na prática, se eu conheço um homossexual e desejo tirá-lo (ou tirá-la) de sua doença, que eu possa fazer todo o possível para traze-lo ao verdadeiro amor e ao culto do verdadeiro Deus. Foi quando Agostinho descobriu o verdadeiro Deus e começou a obedecer ao Primeiro Mandamento que encontrou forças para obedecer ao Sexto.
Que Deus nos abençoe, todos, em Cristo
+ Richard Willianson