O texto que segue é a tradução da carta que a Fraternidade São Pio X enviou a todos os cardeais, como apresentação do trabalho teológico Do Ecumenismo à "Apostasia Silenciosa". Esta iniciativa dos superiores da Fraternidade São Pio X, mais uma vez, vem responder aos ataques e calúnias que, de diversas fontes e de variadas maneiras, tenta atingir os que combatem pela Tradição Católica. Resposta aos que nos acusam de cisma, pois que se dirige a todos os cardeais, mais ainda, ao Papa João Paulo II através deles, o que não ocorreria se houvesse verdadeiro cisma. Resposta aos que nos acusam de nada fazer de positivo para corrigir os erros. Tanto Mons. Marcel Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, quanto os bispos ordenados por eles em 1988, não se cansam de expor sua perplexidade, em diversos trabalhos teológicos de alto nível. Assim foi o livro "O Problema da Reforma Litúrgica", estudo teológico mostrando os erros da Nova Missa. Assim o Simpósio Teológico de Paris, que vem, ano a ano, analisando os textos do Vaticano II. Ainda, o Congresso Teológico SiSiNoNo, de dois em dois anos, reunindo eminentes professores para tratar do problema da crise da Igreja, além de muitos outros trabalhos. Continuemos nosso trabalho, nossas orações, para que volte a brilhar a luz da Fé, da verdadeira doutrina perene da Igreja.
FRATERNITÉ SACERDOTALE SAINT PIE X
Schwandegg
CH 6313 MENZINGEN
Menzingen, 6 de Janeiro de 2004
Festa da Epifania de Nosso Senhor
Eminência Reverendíssima,
Por ocasião dos vinte e cinco anos de pontificado do papa João Paulo II, nos pareceu importante nos dirigirmos a vós, bem como aos demais Revmos. Cardeais, a fim de partilhar convosco nossa grave preocupação com a situação da Igreja. Devido ao agravamento do estado de saúde do Santo Padre, desistimos de lhe escrever diretamente, ainda que o estudo anexo tenha sido inicialmente escrito para ele.
Para além do otimismo que cerca a celebração deste 25o. aniversário, a situação extremamente grave que atravessam tanto o mundo como a Igreja católica não escapa a ninguém. O próprio Papa, em sua Exortação Apostólica Ecclesia in Europa, reconheceu que o tempo em que vivemos é o de uma “apostasia silenciosa” onde reina uma espécie de “agnosticismo prático e de indiferentismo religioso, que faz com que muitos Europeus vivam aparentemente sem bases espirituais e como herdeiros que tivessem dilapidado o patrimônio que lhes fora legado[1].”
Entre as principais causas deste trágico balanço, como não situar em primeiro plano o ecumenismo, iniciado oficialmente pelo Vaticano II e promovido por João Paulo II? Com o fim manifesto de estabelecer uma nova unidade, em nome de um desejo de “considerar antes o que nos une do que aquilo que nos separa”, se pretende sublimar, reinterpretar ou pôr de lado os elementos especificamente católicos que apareçam ser causas de divisão. Assim, menosprezando o ensinamento constante e unânime da Tradição, segundo o qual o Corpo místico do Cristo é a Igreja Católica e que fora dela não há salvação, este ecumenismo está destruindo os mais belos tesouros da Igreja, uma vez que, em lugar de aceitar a Unidade fundada sobre a plena verdade, quis construir uma unidade adaptada a uma verdade misturada com o erro.
Este ecumenismo foi a causa principal de uma reforma litúrgica cujo efeito desastroso sobre a fé e a prática religiosa dos fiéis é patente. Foi este ecumenismo que corrigiu a Bíblia, desnaturando o texto divinamente inspirado para apresentar uma versão adocicada, inapta para fundamentar a fé católica. É este ecumenismo que agora tenta fundar uma nova Igreja, da qual o cardeal Kasper, em uma recente conferência[2], precisava os contornos. Jamais poderemos estar em comunhão com os promotores de tal ecumenismo que leva à dissolução da Igreja Católica — isto é, Cristo em seu Corpo Místico — e que destrói a unidade da fé, verdadeiro fundamento da comunhão da Igreja. Não queremos a unidade desejada por este ecumenismo, porque não é esta a unidade desejada por Deus, não é esta a unidade que caracteriza a Igreja Católica.
É precisamente este ecumenismo que analisamos e denunciamos no documento em anexo, pois estamos persuadidos de que a Igreja não poderá corresponder a sua missão divina se não começar por renunciar claramente e condenar com firmemente esta utopia que, conforme as próprias palavras de Pio XI, “destroem completamente as fundações da fé Católica[3].”
Conscientes de pertencer de pleno direito a esta mesma Igreja, e desejando sempre servi-la mais, nós vos suplicamos de fazer tudo o que está em vosso poder para que o Magistério atual reencontre rapidamente a linguagem multissecular da Igreja, segundo a qual “a união dos cristão não pode ser promovida senão favorecendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja do Cristo, que eles tiveram a desgraça de abandonar[4].” É então que a Igreja Católica voltará a ser farol da verdade e porto da salvação, no seio de um mundo que corre em direção de sua ruína porque o sal perdeu seu sabor.
Eminência, não creia que queiramos de algum modo tomar o lugar do Santo Padre, mas que esperamos do Vigário de Cristo as medidas enérgicas e necessárias para tirar a Igreja do atoleiro em que um falso ecumenismo a colocou. Apenas aquele que recebeu o poder supremo, pleno e universal sobre toda a Igreja, pode propor estes atos salutares. Do Sucessor de Pedro, nós esperamos, na oração, que escute nosso apelo alarmado e que manifeste até o heroísmo este caridade que foi pedida ao primeiro Papa ao receber seu cargo, a maior das caridades — Amas Me plus his — aquela que deve salvar a Igreja.
Eminência, rogamos que aceite nossas mais respeitosas saudações, em Jesus e Maria.
+ Bernard Fellay - Superior Geral
Franz Schmidiberger - 1º Assistente Geral
+ Alfonso de Galarreta - 2º Assistente Geral
+ Bernard Tissier de Mallerais
+ Richard Williamson
Segue o trabalho teológico sobre o Ecumenismo: Do Ecumenismo à Apostasia Silenciosa (em pdf)