Apresentação
à Encíclica Casti Connubii,
sobre o Matrimônio Cristão
Dom Lourenço Fleichman OSB
Não conheço família que não tenha sido contaminada pelo flagelo do divórcio. Chamo de flagelo não somente o divórcio propriamente dito, jurídico e laico, mas todo o ambiente que reina hoje nas almas, nas consciências, mesmo nos mais bem formados.
Enquanto no mundo inteiro lutavam os políticos para que fosse aceito o que eles chamavam de "progresso", de "maturidade", clamava, isolada e abandonada, a Santa Igreja contra a usurpação dos direitos de Deus. Ele, o Criador, o Redentor, deixado de lado na elaboração da família, e os homens ingratos e arrogantes estabelecendo, dentro de suas próprias casas, a bomba de retardo que iria destruir as bases da civilização cristã.
Voltemos em espírito aos tempos que precederam a 2ª Grande Guerra. O mundo já estava todo contaminado, porém a Igreja ainda era respeitada e ainda levantava barreiras contra a destruição dos bens que compunham nossa civilização, nossa cidade. Naquela época e ainda até os anos sessenta, para que uma pessoa tomasse a decisão de sair de casa, de ir morar sozinho ou com amantes, era preciso levantar um peso, um obstáculo social, religioso e moral. Ganhava a família e, com isso, ganhavam os filhos e mesmo o casal. Todos ganhavam. Mas o fogo cerrado contra a Igreja iria minar esta base sólida de vida cristã.
Em alguns países, foi fácil e já havia acontecido há muito tempo. Em outros, os costumes, a fé e a força da Igreja saíam ainda vencedoras. Todos sabem como o então Presidente Geisel aprovou as mudanças de regras para a votação no Legislativo, de modo a quebrar a resistência que levava sempre à derrota os deputados divorcistas, como Nelson Carneiro e outros. Mudaram a lei para aprovar a iniqüidade. E assim a família brasileira foi ferida de morte e, hoje, jaz agonizante na sarjeta da sociedade.
Já não existem homens honestos que considerem a família como um bem superior ao indivíduo. Já não compreendem que a sociedade familiar, fundada diante de Deus, tinha prerrogativas e direitos superiores aos direitos dos indivíduos, pois o todo vale mais do que a parte. Já não querem a sociedade familiar, que tende naturalmente aos frutos do amor que são os filhos. Agora é cada um por si, na busca do prazer enquanto durar! E há a televisão, as novelas, os seriados americanos mostrando essa gente simpática, moderna, alegre a pregar a liberdade e a inventar mil pretextos falsos para enganar os filhos. E os bons foram cedendo, foram aceitando.
Hoje, o quadro é conhecido de todos: cada dia mais cresce o número de crianças sem pais. Digo sem pais, ou seja, que saem cada fim de semana com um dos progenitores. E estes já não são pais de verdade. Guardam a afeição pelos filhos na medida em que isso lhes interessa e não atrapalha. Mas não os amam de verdade, pois que preferiram sair de casa, preferiram a separação, a traição, o adultério a guardar-se dos pecados que bombardearam os bens de sua família. Por mais bem formadas que sejam no catecismo, o que também já não acontece, como poderão crescer estas crianças com a fé e a convicção necessárias para formar uma verdadeira família? É claro que a herança do exemplo dará a elas o horror ao casamento, à fidelidade. Dará a elas uma consciência deturpada quanto à superioridade da família sobre o indivíduo; dará a elas a impressão de que podem dizer aos pais: “Vocês fizeram, porque eu não posso fazer?"
Mas, apesar da desolação, todo católico continua obrigado a conhecer a doutrina da Igreja sobre o matrimônio. Já editamos na nossa página, na rubrica Catecismo, os ensinamentos doutrinários sobre o Sacramento do Matrimônio. Hoje trazemos a clássica encíclica do Papa Pio XI Casti Connubii, de 1930. É leitura obrigatória para todos os que se preparam para abraçar este estado de vida onde a graça do Bom Deus vem ajudar os pais a viver em verdadeira sociedade familiar católica, onde o sorriso dos filhos virá alegrar o amor do casal, onde o bem de todos importará acima dos bens particulares, onde as orações diárias elevarão as almas até Deus, sob o manto da Virgem Maria.
É a fé, e só ela, que pode dar-nos as forças
necessárias para vencermos as enganações do mundo, do diabo e da carne.
Nossos três terríveis inimigos farão guerra à família cristã. Estejamos
prontos para o combate.